Mark Zuckerberg é convidado a depor em Audiência nos EUA

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Mark Zuckerberg é convidado a depor em Audiência nos EUA

Comitê Judiciário do Senado dos EUA informou nesta segunda-feira (26) que convidou os diretores executivos do Facebook, Alphabet e Twitter para testemunharem em uma audiência em 10 de abril sobre privacidade de dados.

Facebook sofreu um forte abalo no último sábado com a revelação de que as informações de mais de 50 milhões de pessoas foram utilizadas sem o consentimento delas pela empresa americana Cambridge Analytica para fazer propaganda política.

A empresa teria tido acesso ao volume de dados ao lançar um aplicativo de teste psicológico na rede social. Aqueles usuários do Facebook que participaram do teste acabaram por entregar à Cambridge Analytica não apenas suas informações, mas os dados referentes a todos os amigos do perfil.

O escândalo gerou nova onda negativa contra a empresa – já sob questionamento pela proliferação de notícias falsas nas eleições americanas.

Na segunda-feira, dois dias após a publicação, o valor do Facebook encolheu US$ 35 bilhões (ou aproximadamente R$ 115,5 bilhões) na bolsa de valores de tecnologia dos EUA.

A Cambridge Analytica, consultoria política britânica, obteve acesso a 50 milhões de usuários do Facebook, o que levou a Comissão Federal de Comércio a iniciar uma investigação.

O senador Charles Grassley, presidente do comitê, disse que convidou o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, “para depor na audiência para discutir as medidas do passado e do futuro no que diz respeito à proteção e monitoramento dos dados dos consumidores”.

O Facebook está enfrentando pressão dos anunciantes, enquanto a rede social está na mira do governo após as acusações. Na semana passada, Zuckerberg se desculpou pelos erros cometidos pelo Facebook ao lidar com dados de 50 milhões de usuários.

“A audiência examinará como os dados podem ser usados indevidamente ou transferidos de forma inadequada e quais passos o Facebook adota para proteger melhor as informações pessoais dos usuários e garantir mais transparência no processo”, disse Grassley.

Entenda o que ocorreu:

Cambridge Analytica: que empresa é essa?

A Cambridge Analytica é uma empresa de análise de dados que trabalhou com o time responsável para campanha do republicano Donald Trump nas eleições de 2016, nos Estados Unidos. Na Europa a empresa foi contratada pelo grupo que promovia o Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia).

A empresa é propriedade do bilionário do mercado financeiro Robert Mercer e era presidida, à época, por Steve Bannon, então principal assessor de Trump.

A Cambridge Analytica teria comprado acesso a informações pessoais de usuários do Facebook e usado esses dados para criar um sistema que permitiu predizer e influenciar as escolhas dos eleitores nas urnas, segundo a investigação dos jornais The Guardian e The New York Times.

Como os dados foram obtidos?

Um ex-funcionário da empresa, Christopher Wylie, revelou ao Guardian que o esquema começou em 2014, dois anos antes da eleição americana de 2016 e três anos antes do Brexit.

As informações dos usuários do Facebook foram coletadas por um aplicativo chamado thisisyourdigitallife (essa é sua vida digital, em português), que pagou a centenas de milhares de usuários pequenas quantias para que eles fizessem um teste de personalidade e concordassem em ter seus dados coletados para uso acadêmico.

O aplicativo foi desenvolvido por Aleksandr Kogan, pesquisador da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Ele já tinha uma pesquisa sobre como deduzir a personalidade e as inclinações políticas das pessoas a partir de seus perfis no Facebook. A Cambridge Analytica – que não tem relação nenhuma com a Universidade de Cambridge – teria comprado os dados coletados por ele.

Além da óbvia questão de que muitos usuários não leem os longos termos e condições e mal sabem que estão dando suas informações para os desenvolvedores desses testes, o grande problema foi que o aplicativo também coletou as informações dos amigos de Facebook das pessoas que fizeram o teste. Ou seja, se uma pessoa respondesse o quiz, estaria entregando informações privadas não apenas do seu perfil, mas de todos os seus amigos.

Quais dados foram coletados?

Os dados incluíam detalhes sobre a identidade das pessoas – como nome, profissão, local de moradia – seus gostos e hábitos e sua rede de contatos. Os usuários do aplicativo não faziam ideia de que isso tudo seria usado para ajudar a eleger Donald Trump.

O aplicativo se aproveitou de uma “brecha” nas normas do Facebook – à época, a política da plataforma permitia à aplicativos externos a coleta de dados de amigos das pessoas, mas dizia que eles deveriam ser usados apenas para melhorar a experiência do próprio usuário no aplicativo.

Era proibido que os dados fossem vendidos ou usados para propaganda – mas não havia controle do Facebook sobre esse uso.

Posteriormente à revelação do escândalo, alguns executivos da empresa reclamaram no Twitter do uso da palavra “vazamento” no caso envolvendo a Cambridge Analytica, já que na prática a plataforma não foi hackeada. A empresa não precisou “invadir” a rede social para ter acesso às informações – conseguiu os dados de maneira legítima e, depois, desrespeitou as regras do Facebook sobre como poderia usá-los.

Para que os dados foram usados?

De acordo com Wylie, os dados vendidos à Cambridge Analytica teriam sido usados para catalogar o perfil das pessoas e, então, direcionar, de forma mais personalizada, materiais pró-Trump e mensagens contrárias à adversária dele, a democrata Hillary Clinton.

A base de dados coletada é uma ferramenta poderosa porque permite que as campanhas identifiquem pessoas que estão em dúvida e direcionem a elas mensagens com maior probabilidade de convencê-las.

Quem é o informante?

Christopher Wylie é um canadense, de 28 anos, especializado em análise de dados. Ele trabalhou para a Cambridge Analytica para projetar e implementar o plano de uso de dados do Facebook.

Ele mostou um dossiê cheio de evidências sobre o mau uso dos dados para o Guardian, com e-mails, mensagens de voz, contratos e transferências bancárias que revelam a coleta de dados dos usuários. As informações também foram passadas para autoridades britânicas e americanas.

 

Wylie saiu da empresa em 2015 junto com uma parte da equipe original, que estava insatisfeita com as inclinações políticas dos donos da Cambridge Analytica. Ele foi fonte – anônima – de mais de uma reportagem sobre o assunto e resolveu vir à público em fevereiro de 2018. Agora, corre o risco de ser processado por estar quebrando cláusulas de confidencialidade de seu contrato com a empresa.

Qual a reação do Facebook?

O vazamento foi levado ao conhecimento do Facebook pela primeira vez há cerca de dois anos, mas a empresa só suspendeu a Cambridge Analytica da plataforma na última sexta-feira – depois que as reportagens procuraram a empresa para pedir uma resposta sobre o caso. A rede social diz que o aplicativo usado para a coleta dos dados foi retirado do ar em 2015.

Inicialmente, a empresa não admitiu a falha e os advogados da rede social procuraram o Guardian dizendo que o jornal fazia alegações “falsas e difamatórias”.

No mês passado, em uma outra investigação – desta vez, sobre notícias falsas – tanto a rede social quanto o atual presidente da Cambridge Analytica, Alexander Nix, tinham afirmado que a empresa não tinha nem usava informações privadas de usuários da rede.

O Facebook, cujo modelo de negócio está baseado na coleta de dados, vem negando o mau uso de informações do público em todas as investigações feitas sobre isso até hoje.

Uma nota assinada pelo vice-presidente do Facebook, Paul Grewal, afirmou que a empresa está “comprometida com o cumprimento de suas políticas e a proteção de informações dos usuários”.

Procurado também pela BBC Brasil, o Facebook nos Estados Unidos não comentou as perdas na bolsa americana, nem o escândalo revelado no fim de semana.

Fonte: G1